Fonte: Terra/ Nós
Foto: Terra/ Pexels
Não somos mais um país de jovens. O Brasil está envelhecendo de maneira acelerada e isso pode ser visto nos dados do maior estudo sobre economia prateada na América Latina, que foi apresentado no último dia 7 de abril.
O continente latino-americano é a região que envelhece mais rápido em todo o mundo. Da década de 50 até 2018, foram 25 anos somados à expectativa de vida de sua população. Estamos vivendo mais e gerando menos filhos. Nossa pirâmide demográfica vai se inverter antes do previsto pelos demógrafos especialistas. Nos próximos 30 anos, a população 65+ na América Latina vai duplicar, passando a representar 18% do todo.
Nomeada como Tsunami Latam e desenvolvida por um consórcio entre as empresas Data 8, NoPausa, Pontes e Opinion Box, a pesquisa investigou um universo de cerca de 20 mil pessoas maiores de 45 anos, entre 2018 e 2021, em sete países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai. O relatório de 150 páginas traz dados e análises sobre o que os mais de 20.000 latino-americanos acima de 45 anos sonham, pensam e como consomem a chamada Geração Invisível (45 a 54 anos) e a Geração Prateada (55+).
A coordenadora do estudo e especialista em economia prateada, Layla Vallias, explica que alguns países são referência: “O Brasil, por suas inovações em produtos e serviços – mais de 300 negócios e startups foram mapeados; o Chile, por suas políticas públicas e apoio à pesquisa e envelhecimento com qualidade de vida; e o Uruguai, o mais prateado do continente, do ponto de vista demográfico (30% de população tem mais de 50 anos) e onde envelhecimento e qualidade de vida acertam o passo.”
“Somos unicórnios geracionais, somos animais que não existiam antes”, diz Tomás Balmaceda, professor da Universidade de Buenos Aires, jornalista e doutor em filosofia, cuja fala está citada no estudo. A metáfora explica a dificuldade em olhar para os latino-americanos maduros como eles são: uma população que está revolucionando a forma de pensar e encarar o envelhecimento. Um desafio que é também dos próprios maduros: um ponto em comum entre os países pesquisados é um envelhecimento não planejado, pessoalmente e nas políticas públicas. Dos maiores de 65 anos, 70% não imaginavam chegar tão bem a essa idade e 53% têm rotinas intensas, com muitas atividades durante a semana. São sociedades despreparadas para o envelhecimento, do ponto de vista financeiro e de saúde. E esse despreparo também se mostra no preconceito etário que permeia as relações.
A pandemia foi um divisor de águas nesse sentido. Em todos os países investigados os entrevistados afirmaram que a Covid-19 trouxe uma reflexão importante sobre o envelhecimento e os cuidados com a saúde e as dimensões físicas e emocionais.
Os resultados do campo brasileiro de pesquisa corroboram os da América latina como um todo. O brasileiro com mais de 50 não se identifica com um inconsciente coletivo de longevidade e se sente muito melhor do que esperava nessa fase da vida. Por um lado, são pessoas que se surpreendem com a própria longevidade, chegaram lá em melhores condições do que esperavam e acreditam que podem chegar aos 100 anos. Por outro, se sentem descartados pelo mercado de trabalho, onde o preconceito etário bate ponto.
É também para isso, desconstruir preconceitos, que se prestam pesquisas dessa magnitude. Engana-se quem vive repetindo que os mais velhos não estão digitalizados. O estudo inédito revelou que 87% dos maiores de 50 acessam a internet todos os dias (78% deles acima dos 65 anos). Entre os acima dos 65, são 8 em cada 10 pessoas. Entre os de baixa renda (até 2 salários mínimos), 77% se conectam diariamente.
Segundo Livia Hollerbach, da equipe da pesquisa, o estudo mostra que a visão da longevidade e a forma de pensar em envelhecimento é muito distinta de como era antes. Os maiores de 50 são ativos, digitalizados, vivem com qualidade, olham para seu planejamento na vida madura. Mas, mesmo sendo centros financeiros e emocionais de seus lares, permanecem invisíveis. A despeito de sua enorme força econômica, não são olhados nem vistos com a profundidade que merecem por marcas, governos e empresas. Não encontram no mercado produtos e serviços focados nas suas necessidades. A queixa é ainda maior entre os que já passaram dos acima dos 65 e os de baixa renda. A ausência de produtos e serviços nas prateleiras se soma à invisibilidade na comunicação. São pessoas que não se veem representadas, ou se deparam com estereótipos grosseiros para representar um envelhecimento que, sabemos, não é um só. Do ponto de vista de hábitos e atitudes, o Tsunami Latam desenha seis diferentes perfis de pessoas no universo da longevidade.
A cada 21 segundos, mais uma pessoa faz 50 anos no Brasil. São 55 milhões de pessoas 50+ e 35 milhões de 60+, mais de um terço da população nacional, que movimentam anualmente quase 2 bilhões de reais, o equivalente a um quinto da economia do país. Uma oportunidade gigantesca, que está sendo ignorada pela grande maioria das empresas e marcas nacionais.
Depois dizem que os velhos é que não enxergam bem.