Fonte: Faculdade de Medicina UFMG, por Eduarda Esperandio
Foto: Faculdade de Medicina UFMG
Um estudo do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, utilizando dados do ELSA-Brasil, indica que aposentados apresentam maior satisfação com a vida em relação aos não aposentados. Porém, a pesquisa alerta: após os três primeiros anos desse marco na vida dos trabalhadores há uma queda na satisfação, que só será retomada após o oitavo ano.
O trabalho foi desenvolvido no doutorado da pesquisadora Jôsi Fernandes, com orientação das professoras do Departamento de Medicina Preventiva e Social (MPS), Luana Giatti e Sandhi Maria Barreto. O objetivo foi analisar o nível de satisfação de vida dos aposentados, em comparação com os servidores ainda ativos, assim como observar variações de gênero e segundo tipo de ocupação.
A tese é baseada em dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Ao todo, foram estudados mais de 13 mil servidores públicos, entre ativos e aposentados, avaliados entre 2012 e 2014, por meio de entrevistas e exames clínicos e laboratoriais. O artigo foi publicado no Cadernos de Saúde Pública.
Para medir a satisfação com a vida, que é um componente do bem-estar, foi utilizada a Escala de Satisfação com a Vida de Ed Diener e colaboradores, na qual são apresentadas cinco questões para serem respondidas utilizando sete opções que variam de “concordo totalmente” a “discordo totalmente”.
Período de “lua de mel”
Nos três primeiros anos, os aposentados declaram maior satisfação com a vida comparados aos servidores que se mantêm ativos. Logo após esse período, é observado um declínio na satisfação do terceiro ao oitavo ano.
Segundo a pesquisadora, uma possível explicação é que exista animação ao se aposentar, mas após algum tempo, outros fatores, como o sentimento de perda de vínculos trabalhistas e a redução da rede social, podem impactar negativamente essa percepção.
“É muito importante que haja planejamento antes mesmo da aposentadoria acontecer de fato, seja financeira ou pessoal, o aposentado precisa estar familiarizado com este novo momento de vida, que pode ser diferente do período de trabalho”, afirma Jôsi.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, o planejamento de aposentadoria é a organização desse período de vida, conforme o histórico contributivo e laboral do trabalhador. Ao se planejar, o aposentado tem maior conforto e estabilidade após abandonar a carga de trabalho.
Após esse momento de declínio, o indicador mostra que a satisfação com a vida volta a subir. O melhor resultado foi encontrado no grupo que se aposentou entre 8 e 15 anos atrás.
A natureza das atividades realizadas no trabalho (manual ou não manual) foram consideradas nos resultados. Para a surpresa dos pesquisadores, a satisfação com a vida após aposentadoria, de maneira geral, se manteve independente da atividade exercida.
O mesmo aconteceu em relação ao gênero. A autora entende que é possível que as diferenças de gênero na situação profissional sejam menos evidentes entre servidores públicos de instituições de ensino e pesquisa, como no caso da amostra analisada.
“Em outras realidades é possível que haja uma diferença maior entre homens e mulheres em seus cargos de trabalho, causando maior ou menor satisfação com a vida quando aposentados. No entanto, entre servidores públicos esta diferença é mínima”, revela a pesquisadora.
É importante destacar que os servidores públicos aposentados deste estudo recebiam proventos similares aos trabalhadores ativos nos mesmos cargos. Além disso, as mudanças nas regras de aposentadoria em 2019 podem vir a impactar o cenário.
A pesquisa foi financiada e apoiada pelo Ministério da Saúde, Ministério da Ciência e Tecnologia, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).