Fonte: Valor Investe, por Estevão Scripilliti
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Uma preocupação constante e sistemática de muitos está expressa em uma letra de música “Como será o amanhã? Responda quem puder (…) “. Por isso, pensamentos, reflexões e programações para buscar um futuro saudável, com equilíbrio financeiro e bem-estar devem ser cada vez mais estimulados.
Em termos financeiros, as incertezas sobre o amanhã são proporcionalmente maiores quanto maiores forem os horizontes para os quais teremos que nos programar. Nesse aspecto, o aumento acelerado da longevidade nos coloca um desafio interessante.
Já abordamos em outros textos que a expectativa de vida no Brasil passou, em pouco mais de meia década, de 45 anos para 70 anos, com projeção de crescimento para acima de 80 anos ao longo das próximas duas décadas. Mais do que isso, já é sabido que determinados nichos da população terão expectativa de vida acima de 90 anos em breve e que, portanto, precisam se programar desde já para este “novo bom problema”.
O aumento da longevidade não é por si só um obstáculo. Porém, quando combinado a restrições laborativas ainda muito presentes para pessoas de idades mais avançadas, torna-se preocupante. Por um lado, o chamado etarismo no mercado de trabalho, e por outro, as limitações das fontes de sustento mais frequentes hoje para os idosos com insuficiência de recursos próprios, tais como a aposentadoria pública do INSS e o sustento de filhos e familiares.
Vale um mergulho nos dois temas.
Com relação às perspectivas de renda advindas das aposentadorias do INSS é quase certo de que esses benefícios ficarão cada vez mais restritivos, na medida em que já há um volume decrescente de jovens, com a taxa de natalidade inferior ao nível que garante a reposição e crescimento da população. Esse fator combinado ao volume crescente de pessoas em fase de envelhecimento e que “engordarão” o topo da pirâmide etária, resultando, segundo estimativas, na duplicação da proporção de pessoas de 65 anos ou mais em cerca de 30 anos, saindo de 14% ao final desta década para cerca de 28% em 2060.
O resultado aritmético desta mudança demográfica acelerada é que termos menos pessoas contribuindo para o financiamento do INSS em paralelo a um crescimento do volume de pessoas requerendo estes benefícios. Resultam disto apenas duas soluções: ou as regras ficam mais restritivas, empurrando as pessoas para serem elegíveis aos benefícios cada vez mais tarde (com mais idade) ou os benefícios médios serão cortados de forma relevante e a expectativa sobre a capacidades desses benefícios proverem sustento em idades mais bancadas devem ser redimensionadas por todos. Uma combinação dos dois parece ser o cenário mais provável.
A fonte alternativa de suporte financeiro para pessoas em idade mais avançada e com capacidade e/ou disponibilidade laboral mais restritas, é o sustento por familiares e, em particular, filhos. Aqui, uma vez mais, as projeções não ajudam, pois, na média, as famílias têm tido um número cada vez menor de filhos, com uma quantidade de potenciais provedores de renda menor, por consequência, e, além disso, os salários entre as gerações mostram uma dificuldade maior de manter uma ascensão de renda como vimos entre as gerações anteriores. Sendo assim, parece ser cada vez menos seguro contar com um suporte financeiro robusto vindo dos filhos, na maior parte das famílias.
Há saídas e elas passam pela educação, disciplina e programação financeiras desde as idades iniciais. No Brasil, temos o benefício da boa remuneração histórica dos ativos de renda fixa que, com baixo risco, garantem uma acumulação de renda crescente no tempo, possibilitando a constituição de uma reserva financeira interessante para o futuro com um sacrifício moderado de recursos hoje.
Apenas como ilustração, se usados todos os atributos da previdência privada para uma acumulação regular de R$ 500 em um plano mensal, nas condições de mercado atuais, estimamos que as reservas de um bebê que tenha um plano para jovens contratado por seus pais desde o seu nascimento, chegariam a quase R$ 3 milhões aos 65 anos. Essa mesma lógica vale para contribuições maiores, com uma simples regra de 3, se as contribuições forem de R$ 1 mil por mês chegariam a R$ 6 milhões, ou se forem de R$ 5 mil poderiam chegar a impressionantes R$ 30 milhões.
Parece ótimo, não é? Aqui fica o alerta de que o tempo é fundamental para esse nível de acumulação. Se, ao invés de começar as contribuições ao zero ano, os jovens começarem a contribuir aos 20 anos para sua própria previdência, os mesmos R$ 500 mensais não mais gerarão R$ 3 milhões de reservas aos 65 anos, mas R$ 1 milhão. O fato de a previdência privada não ter o instituto do recolhimento de IR ao longo do processo de acumulação, sendo tributados os ganhos no resgate do plano, além do benefício da alíquota regressiva, que chega a 10% após dez anos das contribuições, entre outras questões, faz com que o fator tempo fique ainda mais poderoso e jogue a favor do poupador, permitindo a formação de uma reserva mais saudável para o tão esperado futuro.
Os desafios estão colocados e o tempo urge. Formar uma previdência privada complementar para você e para os seus dependentes não figura mais como uma opção, mas, sim, uma necessidade. Se possível, comece o quanto antes. Cada dia a mais de espera são reais a menos e um possível impacto no bem-estar familiar lá na frente.
Estevão Scripilliti é diretor da Bradesco Vida e Previdência.