Melhorar a transparência gera oportunidades de aperfeiçoamento na legislação e nas diversas áreas de atividade das EFPCs
Transparência, ao lado de governança, planejamento estratégico e inovação, é um dos quatro conceitos básicos que orientam os projetos de sobrevivência e fomento dos fundos de pensão brasileiros e, como requisito essencial de gestão, esteve no centro dos debates do 37º Congresso. Especialistas e dirigentes indicaram que o princípio da transparência precisará permear, cada vez mais, as estratégias de todas as áreas das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, desde a comunicação com o mercado e o relacionamento com os participantes até o tratamento de questões jurídicas e financeiras.
O desafio de melhorar a transparência pode se converter em oportunidades para aperfeiçoar a legislação, bem como as diversas áreas de atividade das EFPCs, lembra a integrante da CTN de Comunicação e Marketing da Abrapp, Milena de Macedo. “Para ser transparente na área de comunicação, por exemplo, é essencial garantir o acesso à área aos conselheiros e diretores, sobretudo por meio do diálogo e do planejamento estratégico.”
O planejamento estratégico das entidades precisa colocar a transparência como um valor e definir o seu conceito para garantir que a comunicação siga nessa linha. A interatividade com o receptor da comunicação é outro ponto vital, pondera Milena: “Não basta informar. Se ele (o receptor) não entender a mensagem e não interagir, não há transparência de fato, o que infelizmente ainda é muito comum entre as entidades”.
Algumas experiências que integram a transparência ao planejamento estratégico já mostram uma clara preocupação nesse sentido. Entre elas, o uso da tecnologia de Business Intelligence (BI) em projeto desenvolvido pela Funpresp-Jud para conectar os quatro conceitos básicos (transparência, governança, planejamento estratégico e inovação), lançado oficialmente em Florianópolis.
“O sistema de Previdência Complementar fechada tem debatido muito a necessidade de aprimorar sua governança, mas falta detalhar as formas de suporte às decisões dos órgãos de governança e saber como oferecer isso de maneira transparente”, explica o diretor de Administração da Funpresp-Jud, Márcio Lima Medeiros. O projeto, que aproveita a sinergia entre todas as áreas, incluiu um plano de comunicação e deu grande ênfase à área de relacionamento, primeira a usar internamente o novo modelo, ainda antes de seu lançamento.
Construindo histórias
Aprimorar a transparência das operações, reduzir custos de funcionamento, acompanhar a rentabilidade dos ativos e monitorar o modelo de gestão estratégica são os pilares do projeto de BI desenvolvido pela fundação, que convergem para garantir a melhor avaliação de seu profissionalismo e credibilidade. O trabalho começou a ser implementado em novembro de 2015 e passou por aprimoramentos até que o site da entidade chegasse ao alinhamento total com o novo modelo, em setembro deste ano. Aplicar a noção de Business Intelligence a um projeto de governança e transparência, observa Márcio Medeiros, significa tentar contar uma história com indicadores, de modo a resolver problemas e assegurar o acesso a informações gerenciais e soluções eficazes de TI, o que leva à capacidade de enxergar o todo e não apenas as partes. Por meio desse projeto, a Funpresp-Jud passou a adotar a tecnologia de BI para transformar seus balancetes, demonstrativos e outras informações em conteúdo que possa ser conhecido por todos de forma comparável.
A ideia, diz o diretor, é garantir que os órgãos de governança possam acompanhar e aperfeiçoar a gestão de metas e indicadores na tomada de decisões para execução da estratégia e maximização dos resultados. Ao criar um sistema de monitoramento de desempenho, espera-se também melhorar a transparência, prestação de contas, celeridade e inteligência do negócio, gerando aprimoramento nos processos de trabalho e na execução das estratégias.
Para isso, ele explica que o projeto trata de “construir uma história que envolva todas as áreas por meio de simples cliques interativos no painel de transparência da entidade”. A noção de acessibilidade e simplicidade, portanto, é a diretriz que alinhava os quatro princípios básicos. Mas apesar de a interatividade traduzir as informações do software de gestão, foi preciso ter a exata das demandas específicas, gerando uma linguagem que permita dar explicações adequadas às pessoas.
Como resultado, os integrantes dos órgãos de governança, funcionários, participantes e toda a sociedade têm como navegar nesse painel com facilidade, destaca Medeiros. Isso permite comparar despesas, patrimônio e a evolução dos dados contábeis em linguagem acessível, já que estão disponíveis desde as despesas com o pagamento de táxis até os resultados dos investimentos e evolução do patrimônio total. “Se houver necessidade de customizar algumas dessas informações, poderemos
fazê-lo, sem problemas, à medida que surgirem novas demandas.” Dez dias após seu lançamento, que aconteceu no dia 11 de setembro, o novo sistema já havia registrado 1.299 visualizações.
Desde a compra da ferramenta de BI até a avaliação das lições aprendidas durante a implementação do projeto, a entidade viveu várias etapas importantes de aprendizado. Foram desenvolvidas dez fases em 220 dias, com a divulgação dos dados resultantes na internet, evidenciando a rapidez do processo. Os primeiros resultados já estavam disponíveis de 30 a 60 dias após a definição do escopo. As diferentes etapas envolveram a configuração, mineração e modelagem dos dados dos participantes, de receitas e despesas, assim como a modelagem dos dados de patrimônio/investimentos, além do mapeamento dos indicadores-chave, plano de comunicação e treinamento.
O trabalho acabou se transformando num case de sucesso no uso de tecnologia, tendo sido apresentado também no Congresso de Tecnologia do Judiciário, no final de setembro. “Os patrocinadores ficaram interessados nesse modelo de valorização da transparência que, aliás, está no DNA da Funpresp-Jud”, observa Medeiros.
O grande avanço representado pelo projeto, avalia o diretor, foi aliar a tecnologia BI, já utilizada por alguns patrocinadores e por instituições bancárias, às demandas do próprio negócio da entidade. “Desse modo, conseguimos não apenas produzir resultados para consumo interno, mas para atender o participante e os órgãos de governança.” Além disso, como a modelagem partiu da planificação contábil estabelecida pela Previc, Medeiros pondera que ela poderá ser replicada por qualquer fundo de pensão com baixo investimento em tecnologia.
Contrato previdenciário e confiança
Construir a confiança por meio da transparência no contrato previdenciário é uma diretriz fundamental, ressaltou a especialista da UniAbrapp, advogada Ana Paula Oriola de Raeffray. Ela sublinhou a importância dessa diretriz no fortalecimento da cidadania, lembrando que além da transparência é preciso avançar para produzir o elo social e o interesse das pessoas; incentivar o conhecimento e a identificação positiva; trazer a simplificação dos processos, e “retirar a opacidade e o desconhecimento do assunto Previdência Complementar fechada”. Afinal, aspectos como legibilidade, publicidade, responsabilidade e reatividade compõem as engrenagens da cidadania, diz Raeffray.
Antídoto
A prática da transparência sob o ponto de vista da comunicação das EFPCs, alerta Milena de Macedo, pode ser o antídoto para a crise da vez. Ser claro e límpido, manter um diálogo aberto e franco, fugir da ambiguidade, prestar contas e colocar-se à disposição são algumas das características de quem é transparente em sua comunicação.
Essa, diz Milena, é a única maneira de construir uma relação de credibilidade e um diálogo consistente com os participantes dos planos. Levar em conta as mudanças do mundo no que diz respeito aos canais de comunicação disponíveis (incluindo as redes sociais) e às novas demandas dos participantes é outro requisito essencial.
Sociedade do conhecimento
As consequências da evolução da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento ainda precisam ser mais bem compreendidas pelos gestores no ambiente contemporâneo. Junto com as mudanças impostas pela velocidade da comunicação e da tecnologia, pelo conhecimento globalizado e pelas características de interdependência que permeiam as relações entre indivíduos, organizações e a sociedade, cresce também a transparência, inevitavelmente. A conclusão é do especialista em gerenciamento de marcas Ricardo Guimarães, presidente da Thymus Branding, autor da palestra magna do 37º Congresso.
A comunicação mais rápida, diz Guimarães, dificulta o exercício do poder “de cima para baixo” e abre espaço para a contestação das decisões hierárquicas, produzindo, assim, maior transparência; afinal, “nada mais pode permanecer escondido”.
Ao analisar o tema “Criação do amanhã e a responsabilidade individual e coletiva”, ele lembrou que essa nova realidade, muito mais complexa e menos previsível, transformou as tradicionais organizações-máquina em sistemas vivos. Esses sistemas evoluem constantemente e são integrados por um conjunto de elementos que trabalham de forma interdependente com um propósito comum, trazendo a necessidade de criar valor e gerenciar riscos em ambientes cada vez mais velozes e imprevisíveis.
Matéria na íntegra da Revista Fundos de Pensão – Edição Especial
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