Fonte: Exame
Foto: Exame/ Getty Images
Pensar no quartinho, escolher o enxoval, pesquisar a melhor maternidade – a espera pelo nascimento de um bebê é cercada de planos. Preparar-se financeiramente para a nova fase também deve fazer parte dessa lista. Afinal, não é surpresa que as despesas com um filho são altas, sobretudo nas grandes cidades: em média, 30% da renda familiar, conforme estudo recente do Insper.
Mesmo assim, é nesse ponto que pais de primeira viagem mais erram, segundo a especialista em planejamento de vida e finanças pessoais Fernanda Prado. Apesar de o impacto nas contas domésticas ser previsto, muitas famílias não se programam ou deixam para reorganizar as finanças em cima da hora.
“Novos gastos passarão a fazer parte da rotina familiar e é essencial que os pais estejam preparados para acomodá-los no orçamento. E quanto mais cedo melhor”, diz.
Por onde começar: o que é orçamento familiar
Analisar a realidade financeira da família, mapeando o dinheiro que entra e sai, é o primeiro passo. Para isso, anote as receitas da casa e tudo o que é gasto, desde o aluguel até o lanche na padaria.
Só assim o casal terá clareza sobre quanto sobra efetivamente no fim do mês e quais despesas podem ser enxugadas, com o objetivo de poupar para a chegada do bebê. Um aplicativo de controle financeiro ou uma planilha pode ajudar nessa tarefa.
É com o orçamento organizado que a família conseguirá tomar decisões com maior segurança: comprar um berço novo ou usado, colocar numa creche ou contratar uma babá ou que tipo de escola poderá pagar no futuro, por exemplo.
Liste os gastos previstos
Com a situação financeira da família bem definida, é hora de olhar para o futuro e estimar os gastos que virão nos primeiros anos da criança, desde a gestação. É claro que um filho é um “projeto” de muitos anos, com diversas variáveis e situações imprevistas, mas dá para determinar algumas prioridades e definir um plano para elas.
Entram nessa conta coisas como pré-natal, móveis para o quarto, enxoval, fraldas até pelo menos os dois anos, remédios, suporte médico, produtos de higiene, leite, alimentação, carrinho, cadeira de transporte, babá ou creche, investimento em educação, reformas e até custos mais altos, como de moradia (será necessário mudar-se para uma casa maior, por exemplo?).
“É preciso considerar que cada fase da vida da criança trará novos gastos”, pontua Fernanda. “Uma dica é conversar com outros pais. Trocar experiências sempre ajuda a entender como será esse momento e possíveis itens que não tenham sido considerados”.
Outro fator a ponderar é se haverá uma redução ou ausência temporária de renda durante o afastamento da mãe ou do pai do trabalho nos primeiros meses de vida do bebê. No caso de autônomos e empreendedores, essa fase pode significar uma queda considerável no orçamento familiar, que deve ser levado em conta.
Cada casa, um caso
A planejadora financeira salienta que essa mensuração de custos é diferente em cada caso. Vai depender do estilo de vida, das escolhas em educação e saúde, do local onde a família vive, entre outras questões.
“É importante que os pais conversem sobre a forma como pretendem criar e educar o filho e os possíveis gastos que farão parte da rotina. Cada família tem aspirações próprias que precisam ser analisadas e impactarão de forma diferente o orçamento. Por exemplo, uma escola bilíngue tem uma mensalidade mais elevada que uma escola tradicional”, explica.
Tenha uma reserva de emergência
Para as situações não previstas no roteiro, é essencial contar com uma reserva de emergência. Desemprego, reparos na casa, aumento no aluguel, conserto do carro ou um procedimento médico não coberto pelo plano de saúde são exemplos de despesas inesperadas.
“Planejamento, embora mitigue riscos, não eliminará intercorrências que possam surgir. Então, ter a reserva de emergência é algo bastante recomendável quando se planeja ter um filho”, pontua Fernanda.
Sobre a quantia, a especialista diz que, em média, é indicado um fundo com um valor correspondente a pelo menos seis meses de despesas mensais. Mas destaca que essa referência também varia caso a caso, conforme os riscos de perda de renda e a dificuldade de recuperação de cada família.
“Um autônomo, por exemplo, tem menos estabilidade financeira, já um concursado tem menos riscos. Então, se o risco de perda de renda é maior, é melhor trabalhar de seis a 12 meses de reserva. Caso o risco seja menor, dá para pensar em uma reserva de três a seis meses”.
Enquanto o dinheiro não é usado, o ideal é mantê-lo aplicado, em um investimento em renda fixa, mais conservador e com alta liquidez, já que os pais podem precisar resgatá-lo a qualquer momento.
Monte o planejamento financeiro
Com base nos cálculos feitos, elabore o seu planejamento. Para tentar engravidar em um ano, por exemplo, se a família estima que gastará um total de R$ 10.000, no planejamento por 12 meses, será necessário poupar R$ 833 mensais para esse objetivo.
Não existe uma regra sobre quanto tempo antes idealmente o casal deve organizar o orçamento, mas quanto mais cedo for possível, mais baixos serão os valores a economizar mensalmente e mais fácil será cumprir o plano financeiro estabelecido.
Com antecedência, também dá tempo de contratar um plano de saúde, por exemplo, caso ainda não tenha um. O parto só é coberto pelos convênios após um longo período de carência (300 dias, em média).
E em uma gravidez não planejada, como fazer?
Caso o cenário seja de um filho não planejado, embora o prazo seja menor e mais desafiador, também dá para se organizar. Afinal, é melhor iniciar o planejamento agora do que não se planejar. O processo é o mesmo: entender o orçamento, prever os gastos de forma realista, ter uma reserva de emergência e se programar para poupar a quantia prevista.
“Nessa situação, se não houver viabilidade financeira, pode ser necessário pensar em alternativas para reduzir despesas e também criar estratégias para aumentar a renda familiar”, orienta Fernanda.
Talvez seja preciso mudar um pouco o estilo de vida, revendo hábitos de consumo, para alcançar o objetivo. E para poupar mais, pesquise bastante os preços, aproveite liquidações e considere adquirir alguns itens de segunda mão, por exemplo.