Fonte: Folha de Pernambuco, por Ana Beatriz Venceslau e Isabelle Barbosa
Foto: Ricardo Fernandes/ Folha de Pernambuco
Os sexagenários, pessoas que possuem entre 60 e 69 anos, já vivenciam um envelhecimento diferente de seus pais e avós. A expectativa é de que, em um mundo cada vez mais tecnológico, com mais acesso a serviços, informação e novos hábitos de saúde, a atual juventude dite um novo espírito de sociedade e transforme, no futuro, o que hoje conhecemos como velhice.
A previsão é do médico e gerontólogo Alexandre Kalache, de 77 anos, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco.
“Somos um país onde há mais smartphones que população. Estudos feitos pela Comissão Europeia mostram que o jovem que tem 15 anos estará trabalhando daqui a 10 anos numa ocupação que ainda não foi criada. Sessenta por cento desses jovens estarão trabalhando em ocupações que ainda não existem, por conta da tecnologia”, afirma Kalache.
Com a juventude mais conectada, é possível prospectar uma futura era de “idosos digitais” – população com mais acesso à informação e conhecimento oferecidos por diferentes plataformas.
“Estamos com uma expectativa de vida de um bebê que nasça hoje no Brasil de um pouco mais de 77 anos. Em 1950, a expectativa de vida não passava dos 50. Nós ganhamos mais de 25, 30 anos. É uma conquista social fantástica, a maior conquista social dos últimos 100 anos”, celebra o gerontólogo.
E foram os avanços tecnológicos, o progresso na saúde pública, nutrição, educação e em outras áreas que possibilitaram a longevidade, seja pela criação de vacinas e medicamentos, ou pelo acesso a serviços básicos, que permitiram à população mais anos de vida e até mesmo celebrar o Dia Nacional e Internacional do Idoso, comemorado neste domingo (1º).
“Têm vacinas, antibióticos, métodos para fazer o diagnóstico precoce de uma doença. Há muito mais pessoas que vivem com acesso à água potável, esgoto e eletricidade. O nível nutricional também aumentou”, destaca Alexandre Kalache.
É fato que começamos a envelhecer desde a nossa concepção e só terminamos com a morte. Por isso, o especialista defende que uma boa longevidade passa pelo preparo e estímulo da juventude para o aprendizado, e ainda, por novos hábitos relacionados à saúde, que devem ser adotados o quanto antes.
“Tem que começar o mais cedo possível. Quanto mais cedo, melhor. Nunca é tarde demais. […] Tem que instigar no jovem a curiosidade, para que ele possa buscar os conhecimentos que o farão relevante, atuante na sociedade aos 25, 30, 40, 50, 70 anos. Aprender a aprender sempre”, alerta o gerontólogo.
Quatro pilares para a longevidade
Para o especialista, há quatro pilares que são fundamentais para alcançar qualidade de vida na velhice. O primeiro é investir na saúde. “Ninguém quer envelhecer doente, dependente, numa cama. E isso custa caro à sociedade”, ressalta o médico.
Na sequência, está o acúmulo de conhecimento e aprendizado ao longo da vida. “A revolução da tecnologia das últimas décadas significa que está tudo mudando muito rápido, e quem parar de aprender não vai ter a oportunidade de continuar ativo na sociedade e vai se tornar obsoleto” .
O terceiro pilar é a participação social. “Sem participar, você vai ficar rejeitado. E nós temos que lutar contra uma pandemia que no Brasil é muito cruel: a do idadismo, o preconceito contra as pessoas idosas, que se manifesta na sociedade em geral. Você passa a não ter direitos a se educar, a ter um trabalho, a serviços básicos”.
Para maior qualidade de vida na velhice, Kalache elenca, ainda, a proteção dos idosos como o quarto e último pilar. “É a segurança de que os seus últimos anos não vão ser de abandono. Você quer ter, no mínimo, um teto, comida na prateleira e um dinheirinho no bolso, mas está difícil, porque o Brasil está envelhecendo em pobreza, para muitos, em miséria”, destaca o médico.
“Dados recentes mostram que, dos 33 milhões de pessoas idosas, 28 milhões de brasileiros sexagenários vivem em pobreza e é muito difícil, é um desafio muito grande”, complementa Kalache.
Impactos do envelhecimento da população
A OMS classifica como idoso aquele que possui 65 anos, quando residente em países desenvolvidos, ou com 60, nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. O levantamento mais recente da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que o número de pessoas com 65 anos ou mais no mundo deve mais que dobrar, passando de 761 milhões em 2021 para 1,6 bilhão em 2050.
No Brasil, a previsão da ONU é de que a população com 65 anos ou mais seja a segunda maior em 2100 (cerca de 60 milhões), ficando atrás somente do grupo com idade entre 25 e 64 anos, estimado em quase 80 milhões em 2100.
Mesmo diante de uma população mundial que ultrapassa os 8 bilhões de pessoas e da certeza de que teremos gerações cada dia mais longevas, alguns fatores preocupam estudiosos. Um deles é a baixa taxa de fecundidade.
Em todo o mundo, a fecundidade caiu de uma média de cinco filhos por mulher, em 1950, para 2,3 filhos por mulher em 2021. As últimas projeções das Nações Unidas sugerem que a taxa de crescimento da população global está abaixo de 1% desde 2020, e que isso se deve, em grande parte, ao declínio da fecundidade.
Dois terços das pessoas vivem em países ou áreas onde a taxa de fecundidade é igual ou inferior a 2,1 filhos por mulher. No Brasil, o cenário é ainda mais alarmante: a taxa de fecundidade está em 1,6, o que significa que a média de filhos por mulher é de 1,6, enquanto a média do mundo é de 2,3.
Os dados são do Relatório sobre a Situação da População Mundial 2023 – “8 Bilhões de Vidas, Infinitas Possibilidades”, lançado em julho deste ano pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), agência de desenvolvimento internacional da ONU, que trata de questões populacionais.
“O que está acontecendo é uma transformação demográfica sem precedentes na história. Um casal que não tenha dois filhos, ele não se repõe. Há 25 anos que o Brasil não está conseguindo se repor. Nas regiões metropolitanas, já estamos a níveis europeus de países com taxas de fecundidade muito baixas, como a Itália, a França, Portugal, Espanha”, alerta Alexandre Kalache.
O especialista aponta que a baixa fecundidade, ou seja, a não reposição da população, nunca aconteceu antes na história da humanidade.
“Por um lado, você vai ter cada vez mais pessoas idosas e, por outro, com as taxas de fecundidade baixas, você vai diminuindo a base da pirâmide populacional. E é o que está acontecendo hoje no Brasil. O único segmento da população que continua crescendo é o de pessoas com idade superior a 60 anos. Hoje, nós temos cerca de 15% da população com mais de 60 anos e, daqui a pouco, em 2050, nós vamos ter mais de 30%, o dobro de pessoas sexagenárias. É uma revolução”, ressalta Kalache.
Maravilhosamente bem
Maravilhosamente bem. É assim que a dona de casa Tereza Cristina da Silva, de 64 anos, define o cenário atual da sua vida. O segredo por trás disso, segundo ela, está nas diferentes formas em que tenta manter a sua saúde em evidência, seja na prática de exercícios físicos ou na promoção de momentos prazerosos.
Por estarem entre as prioridades, ela faz questão de que essas “doses” sejam distribuídas todos os dias. Muitas vezes, até com um planejamento semanal.
“Para mim, a vida está indo maravilhosamente bem. Quando eu acordo, faço caminhadas. Nas segundas, vou ao Centro de Convivência; nas terças e quintas, treino para os Jogos da Terceira Idade; pelas tardes, faço sempre algo. Às vezes, vou ao curso de chocolate, bolos e salgados, por exemplo”, diz a mulher, que mora na cidade de Carpina, no interior de Pernambuco.
Valorizando a saúde de forma completa, a disciplina para atividades corporais e mentais, inclusive, tem a mesma dedicação e importância para ela, que revela não ter sido acostumada com o debate voltado à saúde mental, como acontece com a geração atual.
“Eu faço exercícios físicos e palavras cruzadas. Estou sempre fazendo uma atividade. A saúde mental, que eu lembre, não era debatida como agora”, afirmou, revelando, logo em seguida, o que faz para compensar o que não lhe foi apresentado anteriormente como necessário: “Fazendo algo para ter sempre a mente ocupada”, aponta Tereza.
Ela também fez projeções que estendem essa sensação de estar “maravilhosamente bem” e exemplifica isso dentro do seu próprio ciclo de relacionamentos.
“Em cinco anos, espero continuar com o mesmo pique que estou agora. Faço parte de um bloco aqui em Carpina, o ‘Flor do Tamarindo’. Somos como uma família. Os meus ciclos de amizade vão muito bem, estou em alguns grupos onde nos encontramos sempre”, informa Tereza.
A idosa destaca que também participa de outros dois grupos da terceira idade, são eles ‘A Turma do Funil’, que tem integrantes do bloco na qual faz parte, e o ‘Sábaduu’.
“Hoje o idoso vive mais, tem melhor desempenho motor e a qualidade de vida, com passeios, festas, exercícios, palestras e cursos, por exemplo. A convivência entre os idosos melhora a cada dia que passa”, garante Tereza.
Cuidados (e vinhos) que cabem em 83 anos
Apelidada carinhosamente como “Dona Neném”, Maria José Oliveira Silva, de 83 anos, lista as atividades que realiza diariamente, além de estabelecer compromissos consigo mesma em horários entre sessões de pilates, fisioterapia, hidroterapia e terapia.
Para além disso, uma taça de vinho e uma noite bem dormida são indispensáveis. “Levanto cedo, faço minhas orações, assisto TV, leio, gosto de tomar uma taça de vinho antes do almoço e costumo dormir cedo. Faço atividades físicas, cuido da minha alimentação, do meu físico e do meu mental”, ressalta.
Dona Neném diz que adora cultivar amizades, socializar com familiares e amigos e que essa interação faz muito bem para ela. A idosa ressalta ainda que a forma como lida com a saúde e com as finanças são as principais heranças compartilhadas desde sempre com os seus 10 filhos.
“Eu sempre administrei as minhas finanças, mesmo sem ter um conhecimento específico para isso. Fiquei viúva aos 46 anos e criei seis filhos menores de 18 anos na época, sempre administrando a questão financeira e a saúde deles, além da educação, claro”, afirma.
Oferta de produtos e mudança no mercado de trabalho
De acordo com o Relatório sobre a Situação da População Mundial, da UNFPA, o envelhecimento da população desafiará os sistemas de aposentadorias e de saúde, bem como os sistemas de proteção social.
O especialista em finanças Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência, destaca que a renda advinda das aposentadorias pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ficará cada vez mais restritiva, já que haverá menos pessoas contribuindo em paralelo a um crescimento de cidadãos requerendo o benefício.
“Será preciso incentivar uma cultura de poupança privada complementar e de educação financeira desde cedo, tanto com políticas públicas indutoras, quanto por ações privadas intensas. É importante que todos sejam precavidos na acumulação de poupança para usufruir de uma longevidade com qualidade”, destaca Scripilliti.
O relatório da UNFPA aponta, entre outras alternativas para a problemática, a reforma dos sistemas de previdência social, saúde e mercado de trabalho, além da redução da desigualdade, da exclusão digital e a garantia do envelhecimento saudável e ativo como soluções a curto e médio prazo.
Para o médico Alexandre Kalache, o mercado de serviços voltado para a população idosa deve crescer nos próximos anos. A expectativa é de que haja mudança também no comportamento das empresas quanto à admissão do público.
“As empresas que se adaptarem a esse novo perfil demográfico vão sair na frente. E há bons exemplos: já há um número cada vez maior de empresas que estão de olho no mercado, lançando produtos para essa faixa da população e também dando oportunidades, porque estão percebendo que cada vez há menos jovens, e é preciso então aproveitar a experiência e a qualificação daqueles que são mais velhos e permitir que eles continuem trabalhando, sendo produtivos”, aponta o médico.
Longevidade significa viver com mais saúde?
Para o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, a tendência é de que a expectativa de vida continue aumentando e, por esse motivo, se faz necessário que o Sistema Único de Saúde (SUS) esteja fortalecido e preparado para atender essa demanda.
“Oitenta e três por cento das pessoas idosas do Brasil dependem única e exclusivamente do SUS. O grande medo dos jovens hoje, quando pensam no futuro, é se eles estarão qualificados, se terão direitos de participar da sociedade e se o mínimo de segurança para a sua saúde estará preservado”, afirma Kalache.
Questionado se o fato da população estar vivendo mais, significa viver com mais saúde, o especialista em longevidade aponta que os estudos são contraditórios.
“Não estou dizendo só do Brasil. Estou falando de estudos feitos em diferentes países que mostram que sim, estamos vivendo mais, mas não necessariamente com melhor saúde. Muita gente envelhece mal, com doenças crônicas, hipertensão, diabetes e aí está a necessidade de desenvolver uma cultura do cuidado”, alerta o médico, que abordará o tema no XVI Fórum Internacional da Longevidade, promovido pelo Grupo Bradesco Seguros, na próxima terça-feira (3), em São Paulo.
“A palavra que melhor rima com longevidade é solidariedade. Nós temos que colocá-la em prática. Isso leva à importância do intercâmbio entre gerações. Os mais jovens deixarem de ser preconceituosos e estarem mais voltados para os velhos da sua família, da sua comunidade, e as pessoas idosas, mais abertas para estabelecerem o diálogo com essas gerações mais jovens”, finaliza Kalache.
Economia do cuidado
As projeções populacionais que apontam para o envelhecimento da população e uma baixa taxa de natalidade provocam uma série de questões que precisam ser tratadas no presente. Uma delas é a economia do cuidado.
A expressão refere-se às atividades desempenhadas, gratuitamente ou não, por pessoas que se dediquem a prestar serviços de cuidado a terceiros. O professor de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Breno Fontes, explica que tal economia pode funcionar de duas formas.
“De um lado tem mais Estado e menos sociabilidades primárias, ou seja, as crianças vão para a creche, os mais velhos vão para as casas de repouso e todo mundo contribui. Do outro lado, tem menos Estado e mais sociedade necessitando de cuidados, então as famílias abrigam as crianças e os mais velhos, e o cuidado é privado”, afirma.
Com a estimativa ainda maior de crescimento da população idosa nas próximas décadas, uma das preocupações é: como o cuidado será ofertado a essa futura população? Em países com grande número de idosos, a economia do cuidado implica, por exemplo, na importação de cuidadores, como já ocorre em países da Europa, segundo Breno Fontes.
“O envelhecimento está acompanhado de uma série de estados de saúde cronificados. Você começa, por exemplo, a ter problemas de pressão alta, de diabetes, que não são momentâneos ou temporários, eles continuam, eles se cronificam”, alerta o sociólogo.
Etarismo: como o convívio entre gerações pode diminuir o preconceito
O que você faria se não soubesse a idade que tem? O questionamento é da psicoterapeuta e psicóloga Mazira Novaes, que sai em defesa do desenvolvimento de habilidades sociais entre os idosos como uma das alternativas para uma vida com mais autonomia e protagonismo.
“Praticar atividade física é essencial para a saúde emocional, não só para a física. Ter uma alimentação responsável, saudável, um sono bom, que seja o mais reparador possível, buscar estratégias de enfrentamento das coisas que estão gerando estresse, são alternativas”, destaca a especialista.
Mazira aponta ainda que cultivar relações saudáveis e estar aberto a novas experiências também são fundamentais. Ela lembra que a velhice envolve perdas e ganhos, e que é necessário se colocar de forma menos passiva diante das adversidades, reafirmando seus objetivos, preferências e interesses.
“O idoso não é alguém que foi adulto. Ele é um adulto idoso, continua dono das suas decisões. Assuma o seu lugar, o seu papel, não abra mão da autoria da história que você quer viver. Somos responsáveis pela gestão da nossa vida”, orienta a psicóloga Mazira Novaes.
A especialista destaca que grande parte da população ainda enxerga os idosos como pessoas lentas, desmemoriadas, desinteressadas, irritadiças, apáticas e com menos valor social.
“Os preconceitos e estereótipos relacionados à idade são manifestações do etarismo, podendo levar à discriminação etária, pessoas com grande potencial produtivo que ainda estão muito jovens para se aposentar, mas que já são consideradas muito velhas para o mercado de trabalho”, afirma.
Na visão da também psicóloga Gabriela Moura, especialista em gerontologia, ciência que estuda o processo do envelhecimento, a convivência e o respeito à pessoa idosa são essenciais para um convívio harmonioso entre gerações.
“É muito importante a convivência entre crianças e jovens com pessoas idosas, o que chamamos de intergeracionalidade. A partir do momento que a gente junta gerações, a gente vai quebrando preconceitos”, afirma.
O professor de sociologia da UFPE Breno Fontes explica que o jargão etarismo é recente e revela o preconceito dos mais jovens em relação aos mais velhos, ou seja, é a desqualificação por conta da idade.
“Os ciclos geracionais têm mudanças também no quadro social. Até a década de 1960, por exemplo, as pessoas se aposentavam com 50, 60 anos e se recolhiam. Então, o lugar do idoso era o lugar do avô, da avó, aquela pessoa praticamente recolhida dos campos da sociabilidade. Hoje você tem pessoas que estão ativas com mais de 60, 70 ou 80 anos”, afirma o professor.
De acordo com a médica geriatra e paliativista do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Mirella Rebêllo, é necessário entender que o idoso “não é um bebê”, que tem uma história, que precisa ser respeitado e incluído nas políticas públicas.
“À medida que a gente tem discutido mais o tema do não preconceito, de cuidar da pessoa idosa, de tentar incluí-la, existe o medo de envelhecer das outras pessoas, como se fosse uma coisa ruim, mas é algo positivo”, afirma a médica.
Para Mirella, saúde é a sensação de bem-estar físico, emocional, social e espiritual, e também é se manter ativo. “Até falecer, todo mundo passa por um processo de declínio funcional. Perde a capacidade de fazer as coisas e depende dos outros. A ideia é que a gente consiga viver mais, comprimindo o tempo de dependência. Conquistando anos de vida com qualidade. O elixir da juventude é a atividade física”, conclui.
“Uma delícia”
No auge dos seus 79 anos, a aposentada Maria Paula da Costa é só alegria. Após enfrentar diversas dificuldades na juventude, foi somente a partir dos 50 anos que ela encontrou motivação e mais sentido para viver.
“Eu já sofri muito, perdi tudo o que tinha, mas recuperei. Hoje, eu sou mais feliz do que quando tinha 20, 30 anos. Estou me sentindo ótima, renovada. Minha vida está uma delícia”, ressalta.
Liberdade aos 73 anos
“Minha vizinha me chama de velha fogosa, amostrada, mas quanto mais me chamam, mas eu me amostro. Acho lindo ser amostrada”. É assim, com bom humor, que a aposentada Hosana Rosa de Lima, de 73 anos, se apresenta e encara o etarismo. A idosa, que possui energia, disposição e um molejo único, capaz de colocar qualquer jovem ‘no chinelo’, conta que ama dançar e brincar o Carnaval de rua.
“É bom demais. Quando eu era solteira, meu pai não me deixava colocar a cabeça na porta. Quando me casei, também era presa. Hoje, brinco Carnaval, danço, vou para o Galo da Madrugada, Cabeça de Touro…”, relata, citando blocos que frequenta durante a folia de Momo.
Com o incentivo das três filhas, Hosana tem buscado a autonomia que sempre desejou. “Eu moro sozinha, mas com minhas filhas por perto. Faço Academia da Cidade das 6h às 7h, todos os dias, e participo de grupos da terceira idade”, destaca Hosana, informando que incentiva as amigas a também iniciarem atividades físicas. “Sou feliz demais e agradeço todos os dias a Deus”, finaliza.
Amizades, boas risadas e descobertas
A prática de exercícios físicos sempre foi uma rotina na vida da socióloga Cleide Galiza, de 73 anos, que faz pilates, hidroginástica e outras atividades que a auxiliam na direção de uma vida ativa.
Ela, que trabalhou 48 anos na Fundação Joaquim Nabuco, exercendo a função de pesquisadora, conta que descobriu novos talentos após a aposentadoria, conquistada há seis anos. “Encontrei coisas boas para fazer. Me descobri artesã. Faço bolsas de tecido e isso me preenche bastante”, afirma.
Cleide lembra que, quando tinha 40 anos, as pessoas com 73 eram “super-idosas”, apresentavam mais limitações e se recolhiam em casa, cenário totalmente diferente do protagonizado por ela nos dias atuais.
“Eu não sou assim. Ando, faço exercícios, leio, amo viajar, já viajei muito por aí. Minha vida sempre foi muito preenchida. Moro sozinha, não tenho filhos e tenho grupos de amigas onde a gente sempre se encontra, vai para café, restaurante”, ressalta.
A alimentação equilibrada e os exercícios físicos, combinados a terapias, foram essenciais para um envelhecimento tranquilo, aponta Cleide. “Vou fazendo o que eu posso cada dia. Gosto de viver e viver é curtir, é fazer coisas novas, coisas boas”, diz.
Ter amigos e estar junto a eles é sinônimo de bem-estar para a aposentada. Aos mais jovens, ela faz uma recomendação.
“Mantenham as amizades. Vocês vão se encontrar e dar risada das coisas que fizeram”.
Revigorada pelos exercícios após AVC
Moradora de Brasília, Delgice de Oliveira Silva, de 75 anos, teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quatro anos atrás e ficou impossibilitada de andar por três meses. Hoje o quadro clínico está superado, mas teria sido diferente sem os exercícios que complementam sua rotina.
Ela, que é mãe de quatro filhos, está no Recife de passagem, hospedada na casa da neta. Na mala, fez questão de comportar os hábitos saudáveis que realiza.
“Eu tive um AVC quatro anos atrás e hoje sou revigorada pelos exercícios que me ajudam muito. Fiquei três meses acamada. Hoje não corro mais, mas caminho. Devagar e sempre. A idade, para mim, é um número para colocar no documento. A mente é quem responde pelo corpo. Às vezes, você é limitada pela família e filhos, mas prefiro ainda seguir meu comportamento. No meu limite, sei que posso tudo”, diz.
Musculação e hidroginástica são as duas principais tarefas realizadas por ela, que segue motivada mesmo ao perder companhias para esses momentos. “Faço academia três vezes por semana. Antes eu ia acompanhada, mas agora vou sozinha, e também faço hidroginástica”, detalha.
Além do físico, o bem-estar mental também foi exaltado por ela, que incentivou as práticas para todas as pessoas, sobretudo as idosas.
“É muito importante nas nossas vidas, principalmente para quem tem uma idade avançada. Serve como um tratamento físico e psicológico. Eu me sinto muito bem. A gente até pensa que está voltando a ser jovem”, brinca.
Ativo para alcançar os 90 anos
O aposentado Adjemir Rodrigues de Almeida Filho, de 70 anos, encara o envelhecimento como uma oportunidade de viver momentos únicos. Casado e pai de dois, ele conta que uma das suas grandes felicidades na velhice é saber se será avô pela primeira vez.
“Quero que abril chegue logo. Estou ansioso, com aquela vontade de vê-lo”, afirma o aposentado, que ainda não sabe o gênero da criança. Apaixonado pelo Santa Cruz, clube do coração, Adjemir lembra que jogou futebol até os 50 anos, quando teve que parar após sofrer um infarto.
“Tive que colocar um stent e o médico me aconselhou a não jogar mais. Comecei a fazer caminhada, a frequentar academia”, relata, informando que, em uma nova consulta, descobriu que estava com problemas no quadril. Foi quando passou a fazer hidroginástica no Clube Alemão, no Recife.
“Faço três vezes por semana. Meu quadril melhorou bastante. Na hidroginástica, a gente faz uns exercícios que não tem tanto impacto. Eu me sinto muito melhor”, afirma. Além da saúde, ele também busca alternativas para manter a mente sadia.
“Procuro ler alguma coisa, gosto muito de televisão. Faço novas amizades, converso com as pessoas do meu prédio, acompanho futebol, torço pelo Santa Cruz, que está numa situação dramática, mas isso vai passar”, projeta.
O idoso, que passou mais de 40 anos dedicados a várias funções, já pensa no futuro e quer alcançar os 90 anos com saúde e vivacidade, assim como sua mãe. “A mensagem que eu dou é procure ser feliz, viver em paz com a sua família, ter um sentido espiritual, e amar, que é a palavra fundamental”, aconselha.
A prática saudável como analgésico
João Camilo de Sousa Filho, de 62 anos, vai ao Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, para se movimentar. Há seis meses ele começou esse caminho. Lá alcança, correndo, a marca das 10 voltas completas no espaço, o que era difícil de imaginar por conta das constantes queixas de dor.
“Me sinto bem. Venho dia sim, dia não, toda semana. O que eu mais gosto de fazer é correr. Dou dez voltas e faço exercício nos bancos. Estou até sentindo os meus braços mais inchados”, se diverte.
Outra percepção que ele teve foi o fim das dores pelas diferentes partes do corpo. “Eu vivia cheio de dor e agora acabaram-se as dores, com o próprio exercício”, garante.
Tendo descoberto a receita até a melhora, ele agora a coloca como alternativa entre pessoas da sua faixa etária e aponta benefícios, inclusive na capacidade de aumentar o percurso da corrida.
“O idoso, como eu, deve dar umas voltinhas devagarzinho aqui. Não é correndo desesperado. Fica com mais força e disposto, até mesmo para correr. Eu antes dava seis voltas, agora dou dez”, diz orgulhoso.
De mãos dadas com o amor
O casal formado por Maria do Socorro Clementino, de 62 anos, e Francisco Gomes, de 63, separa um horário para, de mãos dadas, praticarem caminhadas e exercitarem o corpo e o coração.
Os benefícios, segundo a mulher, são sentidos no mesmo dia e percebidos também no amanhecer seguinte. “Geralmente, a gente caminha três vezes por semana. A gente faz caminhada e no mesmo dia você já dorme melhor e no outro, já acorda bem, porque já tem toda uma melhora no dia a dia”, assegura.
A saúde mental foi igualmente exaltada por ela durante a prática. “Ajuda a cabeça também. A gente não anda muito rápido e não é só pelo corpo, você fica mais leve. Não é relacionado com a idade, mas com disposição e saúde”, frisa.
Concordando com sua esposa, Gomes confessa que a dupla já fez caminhadas de uma maneira mais regular, mas pondera que agora a movimentação também está dentro de casa. Para o casal, a saúde é tratada como prioridade há mais de duas décadas.