Fonte: Terra
Foto: Terra/ Reprodução
Quando somos mais novos, durante a fase infantil e adolescente, nos inspiramos e criamos juízo de valor a partir das experiências que temos em casa, na escola e no convívio social como um todo. Seja por observar os pais discutindo por conta de dívidas, notar a perda de bens da família, sentir a troca da escola particular para a pública, ou também as positivas, como receber mesada, ter um cofrinho, perceber que a mãe é organizada e sempre tem dinheiro guardado… Algumas dessas experiências e comportamentos são absorvidos e há uma grande tendência a copiá-los ou reprimi-los quando adultos.
Praticamente todo cliente que eu atendo tem uma história para contar sobre dinheiro nessas fases da vida e, ao comparar com as questões atuais, vemos o reflexo perfeitamente. Se durante a infância só passou perrengue, agora quer recuperar o “tempo perdido” e consumir tudo o que puder; ou tem tanto medo de voltar a pobreza, que poupa mais que o necessário e não curte a vida.
Já quem sempre teve tudo, ao se deparar com problemas financeiros, tem uma dificuldade extra de resolver e aceitar que as coisas mudaram.
Independentemente do caso, é nítido que nossa relação com dinheiro é construída no início da vida e desenvolvida com o passar do tempo. Então, por que não falar sobre isso com os pequenos? Por que não incluir a opinião dos filhos nas decisões da família? Por que proteger e blindar nessa fase, se vão passar por tantas outras mais complexas durante a vida adulta, sem preparo?
A educação financeira deve ser dada em casa, através do exemplo. Não adianta falar que não tem dinheiro sem dar explicações, mas sempre chegar em casa com uma sacola. A criança não vai conseguir entender e se sentirá traída. E uma possível consequência disso é que na fase adulta ela queira consumir, mesmo sem ter dinheiro, porque era o que seus pais faziam.
Também não faz bem dar tudo que a criança pede, pois assim ela vai presumir que seu dinheiro vem fácil, que você (e ela) tem muito e que será assim, sem esforço, a vida toda. Eu entendo o desejo de presentear, proporcionar o que não teve acesso na própria infância, mas para toda ação, uma consequência, e um adulto que não sabe lidar com dinheiro, por sempre ter ganhado tudo, tende a sofrer.
Estamos caminhando para que haja educação financeira nas escolas, mas educar pelo exemplo ainda é papel dos responsáveis pelas crianças e adolescentes. Eu sugiro que desde a primeira infância abordem temas básicos como: de onde vem o dinheiro, quanto custa os itens da casa, diferença de dinheiro em papel e moeda, importância de poupar para o futuro, o por quê de só comprar quando se tem dinheiro, o que é dívida etc. Também há dinâmicas e brincadeiras que podem ser feitas pra ilustrar melhor, como brincar de mercado, de fazer contas, de teatro com situações que envolvem decisões financeiras…
De um jeito mais sério ou lúdico, o assunto precisa ser abordado, porque é nesse pequeno momento que a criança vai aprender algo, que se tornará uma memória, e a acompanhará pela vida.
E todos nós queremos que nossos filhos tenham uma vida financeira tranquila, não é mesmo? Façamos então o que estiver ao nosso alcance para educá-los em primeiro lugar e presenteá-los em segundo.
Mari Ferreira é especialista em educação financeira, consultora, palestrante, criadora de conteúdo e autora do livro “Tostão Furado: Do Zero à Liberdade Financeira”.