Fonte: Época Negócios, por Maria Tereza Gomes
Foto: Época Negócios/ Getty Images
Notícias interessantes estão surgindo na economia da longevidade. A BMW mudou o painel de seus carros ao reconhecer que a maioria dos compradores têm mais de 55 anos e, portanto, precisam de mostradores maiores. Por fora o carro continua o mesmo, mas as modificações internas melhoraram a experiência do adulto mais velho.
A Nike, que sempre direcionou seu marketing para clientes de 18 a 34 anos, revisou sua estratégia para responder às necessidades de homens e mulheres em todos os esportes, independentemente da idade. Os dois casos são contados por Susan Golden no livro “Stage (Not Age): How to Understand and Serve People Over 60 – the Fastest Growing, Most Dynamic Market in the World” (“Etapa – não idade: como entender e atender pessoas com mais de 60 anos – o mercado mais dinâmico e que mais cresce no mundo”, em tradução livre).
No livro, publicado no mês passado nos Estados Unidos, Susan defende que as empresas envolvam os idosos no design dos produtos. Em entrevista para a série Author Talks da consultoria McKinsey, ela diz que “não é razoável pensar que os jovens entendem os desejos e necessidades de um adulto mais velho; então, traga um adulto mais velho para sua equipe e tenha uma força de trabalho multigeracional. Isso agregará valor e, como resultado, sua equipe será mais produtiva”.
Susan, que é professora na Stanford Business School, mas já trabalhou em venture capital, foca suas aulas na intersecção entre longevidade e inovação. Segundo ela, as pessoas com mais de 60 anos compõem um mercado global de 22 trilhões de dólares que está pronto para ser desbravado pelas empresas que repensarem a forma como enxergam os idosos.
Susan mostra o caminho para esse repensar já no título do livro: dedique-se a investigar a fase da vida do cliente potencial e não a sua idade. As pessoas com mais de 60 anos não são iguais. “Você pode ter um idoso de 80 anos trabalhando ou correndo maratonas como o Dr. Anthony Fauci e sendo tão vibrante quanto um homem de 40”, diz Susan, se referindo ao imunologista americano, principal assessor médico da Casa Branca. Ou seja, nem todos os 60+ estão em declínio, são frágeis e gostam de bege. Há uma grande diversidade de perfis entre os 60 e os 100. A pergunta a ser feita, ensina Susan, é: “Em que estágio da vida alguém está e quais produtos e serviços vai precisar?”
As oportunidades de negócios para a longevidade, escreve Susan, estão nos mais variados segmentos: entretenimento, viagens, educação, saúde, habitação, transporte, bens e serviços de consumo, design de produtos, tecnologia, serviços financeiros e muitos outros. Mas ela alerta: somente “serão beneficiados os profissionais de marketing que desaprenderem o que pensam que sabem sobre essa população crescente”. A economia da longevidade inclui empregos, produtos e serviços que estão (ou serão) criados para apoiar uma vida longa e saudável. O livro de Susan é um guia prático de como as empresas que já existem podem ter uma estratégia para o consumidor 60+, mas também dá dicas para empreendedores e inovadores de como aproveitar as oportunidades desse mercado.
Por fim, mais uma contribuição de Susan para o eterno debate de como devemos chamar esse estágio da vida. Ela acha importante abandonar as palavras “aposentadoria”, “sênior”, “prata” e “idoso” pois têm uma conotação de fim e colocam todas as pessoas na mesma cesta. Ela prefere uma palavra nova, que eu ainda não tinha ouvido: em inglês “furtherhood” que traduzi grosseiramente para “quem vai além”, uma geração que está indo mais longe do que o esperado. Alguém tem uma tradução melhor? Estou aceitando sugestões.
*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”.